BISSAU, Guiné-Bissau - Até ao mês passado, quando uma mulher necessitava de uma cesariana de emergência na ilha de Bubaque, na Guiné-Bissau, tinha de fazer uma viagem de barco de cinco horas até à capital. E o barco só faz carreira uma vez por semana.
O Hospital Regional de Bubaque - que serve 17 ilhas no arquipélago dos Bijagós - não possuía bloco operatório. Também faltava capacidade para fornecer cuidados obstétricos e neonatais de urgência.
As mulheres que necessitavam de cuidados urgentes recorriam frequentemente a canoas/pirogas motorizadas, que são mais lentas e menos fiáveis que a embarcação de passageiros semanal, ao longo de longos percursos no Oceano Atlântico.
Women in need of urgent care often resorted to taking motorized canoes, which are slower and less reliable than the once-a-week passenger boat, across long stretches of the Atlantic Ocean.
“As mulheres dos Bijagos pôem as suas vidas em risco quando viajam de Bubaque” em busca de tratamento, explicou Kourtoum Nacro, Representante do UNFPA na Guiné-Bissau.
Desde 2015, uma média de 14 mulheres grávidas com complicações obstétricas foram evacuadas de Bubaque para Bissau. Algumas não sobreviveram.
A vida pode ser precária para as mulheres da Guiné-Bissau. O país tem uma das 20 maiores taxas de mortalidade materna do mundo, de acordo com dados de 2015 das Nações Unidas.
A maioria dessas mortes poderia ser evitada com acesso a serviços de saúde de qualidade. No entanto, estima-se que 79 por cento da necessidade de assistência obstétrica especializada no país não é satisfeita, de acordo com dados do UNFPA, e menos da metade das mulheres do país dão à luz sob os cuidados de um técnico de saúde qualificado.
Mas a mudança está a chegar.
Novas instalações de saúde, nova esperança
Life can be precarious for women in Guinea-Bissau. The country has one of the 20 highest maternal death rates in the world, according to 2015 United Nations data.
Most of these deaths could be prevented with access to quality health services. Yet an estimated 79 per cent of the country’s need for skilled midwifery care is unmet, according to UNFPA data, and fewer than half of the country’s women give birth under the care of a skilled attendant.
But change is coming.
New health facilities, new hope
Um novo bloco operatório, financiado pelo UNFPA e pelo governo de Portugal, abriu no Hospital Regional a 25 de julho de 2018.
Servirá não só a Bubaque, mas a toda à área de Bolama-Bijagós, cobrindo uma população de mais de 35.000 habitantes. Espera-se que o bloco operatório “reduza as evacuações de mulheres grávidas para Bissau, reduza as mortes maternas e, significativamente, reduza o sofrimento das pessoas que vivem nas ilhas”, disse a parteira Arminda Correia, responsável pelas questões de saúde reprodutiva na região, durante a inauguração do bloco operatório.
Com este bloco operatório, o hospital poderá fornecer um conjunto completo de cuidados, incluindo serviços de saúde primários, cuidados pré-natais, partos assistidos, cuidados obstétricos e neonatais de emergência, cuidados pós-natais, cirurgia obstétrica e outras cirurgias gerais.
O bloco operatório de Bubaque foi o sexto estabelecimento de saúde que o UNFPA construiu ou renovou desde 2015.
O UNFPA também apoiou a construção de um bloco operatório em Buba e estabeleceu duas maternidades (Casa das Mães) - onde as mulheres em fases posteriores de gravidez ou que sofrem complicações podem ficar e receber cuidados enquanto aguardam o parto - em Buba e Catió, e reabilitaram uma em Babuque. Na área longínqua de Gã-Pará, o UNFPA reabilitou um centro de saúde abandonado e uma residência de profissionais de saúde.
Cinco destes projectos foram apoiados pela parceria H4+/H6, com financiamento da Agência Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento na Guiné-Bissau.
Mulheres grávidas pouparam três dias de caminhada
A construção dessas instalações foi um empreendimento enorme e complicado. O processo envolveu a coordenação com seis governos consecutivos - três só em 2016.
O acesso aos locais de construção remotos também apresentou grandes desafios
Chegar ao centro de saúde de Gã-Pará, por exemplo, exigia viagens em estradas complicadas que ficavam cheias de poças de àguas durante a estação das chuvas.
A unidade de saúde original e a residência do pessoal de saúde foram abandonadas durante 19 anos.
"Muitas mulheres morreram no parto em casa porque não podiam chegar ao centro de saúde mais próximo, localizado a 25 quilómetros de distância, na cidade de Fulacunda", disse a Sra. Nacro.
The original health facility and health staff residence there had been abandoned for 19 years.
Agora que o centro de saúde de Gã-Pará foi restaurado - com água canalizada e energia elétrica 24 horas por dia, através de painéis solares - as mulheres “não terão mais que caminhar três dias, quando estão grávidas, para chegar à unidade de saúde mais próxima”, acrescentou.
Hoje, seis unidades de saúde estão concluidas e cinco estão totalmente operacionais. O UNFPA está a complementar esses esforços ajudando a formar técnicos de anestesia - que anteriormente não estavam disponíveis na Guiné-Bissau - e parteiras qualificadas.