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"A minha vida mudou completamente": Tratar corpos, mentes e vidas afectadas pela fístula obstétrica na Guiné-Bissau

"A minha vida mudou completamente": Tratar corpos, mentes e vidas afectadas pela fístula obstétrica na Guiné-Bissau

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"A minha vida mudou completamente": Tratar corpos, mentes e vidas afectadas pela fístula obstétrica na Guiné-Bissau

calendar_today 16 June 2023

Maria aguarda tratamento no Hospital Nacional Simão Mendes em Bissau, Guiné-Bissau. © UNFPA Guiné-Bissau/Aleke Ogbada Junior
Maria aguarda tratamento no Hospital Nacional Simão Mendes em Bissau, Guiné-Bissau. © UNFPA Guiné-Bissau/Aleke Ogbada Junior

BISSAU, Guiné-Bissau – "Não sabia o que era a fístula obstétrica e muito menos que podia ser tratada", conta Maria, de 33 anos, mãe de dois filhos.

O sonho de Maria de aumentar a sua família sofreu uma reviravolta trágica em 2016. Encontrava-se no leste da Guiné-Bissau, na região de Batafa, quando começaram as dores de parto; mas, passadas mais de 12 horas, continuava incapaz de dar à luz.

Maria foi evacuada para o Hospital Nacional Simão Mendes, na capital da Guiné-Bissau, mas à sua chegada, três horas depois, uma ecografia revelou que o seu bebé tinha morrido no útero

Horas mais tarde, depois de ter tido alta do hospital, Maria sentiu-se a perder fluidos corporais. Tinha sofrido uma fístula obstétrica,uma lesão devastadora resultante de um parto prolongado e obstruído, que provoca incontinência.

Em todo o mundo, estima-se que meio milhão de mulheres e raparigas vivam com fístula obstétrica. Apesar da prevalência da doença, muitas mulheres e raparigas que sofreram a lesão acabam por ser abandonadas e ostracizadas pela família e pela comunidade - o que resulta em traumas físicos e psicológicos.

Infelizmente, foi este o caso de Maria. "Costumava pensar em suicídio por causa do grande estigma que sofri", disse Maria. "A minha família abandonou-me completamente. "*

Maria de volta a casa após a reparação da fístula obstétrica, reflectindo sobre a sua experiência

Criação de um ciclo virtuoso

Uma vez que a fístula não afecta apenas os corpos, mas também as vidas e as mentes, a Campanha para Acabar com a Fístula liderada pelo UNFPA, trabalha com as comunidades de todo o mundo para realizar cirurgias de reparação da fístula e prestar apoio psicossocial com vista a ajudar as mulheres e as raparigas a reintegrarem-se na sociedade.

Na Guiné-Bissau, o UNFPA trabalhou em parceria com o governo da Guiné-Bissau para proporcionar cirurgias gratuitas de reparação de fístulas a 42 mulheres - a três das quais foram oferecidas bolsas de estudo para se formarem como parteiras na Escola Nacional de Saúde do país.

"Esta oportunidade de formação será gratificante para a minha integração na sociedade", diz Vitória, que recebeu uma das bolsas de estudo. "Espero que seja alargada a mais mulheres vítimas desta terrível doença."

O programa tem como objetivo capacitar as sobreviventes para se reintegrarem nas comunidades, com o efeito em cadeia de fortalecer o quadro de parteiras da Guiné-Bissau. As parteiras têm sido destacadas pelo seu papel fundamental na prevenção da ocorrência de fístulas obstétricas.

"Para acabar com a fístula, precisamos ter certeza de que todas as mulheres e meninas tenham acesso oportuno a parteiras qualificadas e cuidados obstétricos de alta qualidade", disse a diretora executiva do UNFPA, Dra. Natalia Kanem, no Dia Internacional pelo Fim da Fístula Obstétrica de 2023. "É por isso que o UNFPA está a trabalhar para aumentar os efectivos de parteiras e colmatar a lacuna global de quase 1 milhão de parteiras."

Uma oportunidade de reparação da fístula ouvida através das ondas de rádio

Em 2021, Maria ouviu um anúncio de rádio que mudou a sua vida. Era para o tratamento da fístula obstétrica e descrevia os sintomas da doença semelhantes aos que ela tinha.

Ela não sabia o nome da sua doença, mas recebeu o diagnóstico de fístula obstétrica depois de procurar cuidados no Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau.

Maria com a sua família, de volta a casa após a reparação da fístula. © UNFPA Guiné-Bissau/Aleke Ogbada Junior

Foram necessárias duas cirurgias para reparar a lesão; a segunda foi concluída em 2022.

"Depois da reparação, a minha vida mudou completamente", disse Maria. "Sinto-me maravilhosa. Já não uso pensos."

*Se estiver a debater-se com pensamentos suicidas, depressão, traumas ou quaisquer outros problemas de saúde mental, procure ajuda e aconselhamento junto de um profissional de saúde de confiança o mais rapidamente possível.